Engolir sapo pode estar acabando com as suas memórias
Engolir sapo no trabalho pode estar prejudicando sua memória! Um mecanismo do corpo faz com que todo o estresse se converta em algo terrível. Saiba como evitar
*Colaborou Giovanna Tavares
Houve um tempo nas empresas em que a máxima do “manda quem pode e obedece quem tem juízo” era a lei irrevogável. Assim, muitos de nós saíamos da sala do chefe com o rosto vermelho, lábios tremendo e muita vontade de largar tudo e ir embora. No popular, é o que a gente chama de “engolir sapo”. E haja sapos por aí, não é mesmo?
Por sorte, as coisas mudaram. Hoje, nas empresas modernas, essa regra não é mais tão bem vista e você pode manifestar opiniões e contrariedades sem medo de perder o emprego. Mas ainda tem gente que engole muito sapo e, sem perceber, prejudica a própria saúde por causa disso.
Fui conversar com o neurocientista Nelson Annunciato, do Conexão Cérebro, sobre este assunto.
O doutor Nelson explica que, em situações de muito estresse, nosso corpo se arma para a briga e, para isso, aumenta a nossa produção de adrenalina e de cortisol — além de aumentar nossa frequência cardíaca e respiratória (o que nos dá aquela respirada mais profunda, sabe?).
Aí vou tentar traçar um paralelo entre a explicação do doutor Nelson e os nossos sapos diários. O cortisol é o nosso sapo. Se ele se mantém alto todos os dias, por um longo período e sendo engolido por nós passivamente, ele se torna neurotóxico.
No longo prazo, o cortisol se torna neurotóxico — e engolir este sapo não é nada bom.
O que isso quer dizer: aquele sapo que a gente engole do chefe, do colega (até na família!) começa a diminuir nossos hipocampos — que são a porta de entrada para a formação de novas memórias. A longo prazo, nós podemos ter essa memória prejudicada pela diminuição do hipocampo — é como se cada vez eu tivesse menos espaço para que elas entrem no cérebro.
A solução? Colocar esse cortisol (e esses sapos) para fora.
Aqui, uma ressalva: não estou dizendo para você berrar com seu chefe, bater a porta e pedir demissão. Afinal, adultos que somos, já temos outras ferramentas para resolver nossos problemas, certo?
Por outro lado, não é saudável para seu corpo nem para sua carreira deixar de falar. Peça um momento a sós e explique como se sente — não acuse a pessoa de ter te feito algo, não vá para o ataque dessa maneira, mas diga a ela como você tem se sentido a partir do que tem acontecido. Deixe claro que está procurando-a porque quer ajuda, não julgamento.
A conversa vai te ajudar a não acumular esse cortisol todo e pode, de quebra, resolver o que causa o conflito. Pode parecer mentira mas, muitas vezes, as pessoas estão tão inseridas em seus próprios problemas que não se dão conta do que causam nas outras. É aí que entra a importância do diálogo.
SOBRE O AUTOR
Jornalista desde 2010, formado pela Universidade São Judas Tadeu. Foi head de conteúdo da Rádio Globo e chefe de reportagem e apresentador da Rádio CBN. Também passou pela TV Globo, CNN Brasil e Editora Abril. Se especializou em gestão de negócios pela Fundação Dom Cabral e tem MBA em Informação Econômico-Financeira e Mercado de Capitais no Instituto Educacional B3.